O Artista e a sua Obra: Jorge dos Anjos

Trabalhos que  impressionam pela grandiosidade  a espontaneidade em relacionar (e contrastar) a complexidade e simplicidade: são algumas das características do trabalho do artista plástico de grande destaque na arte mineira contemporânea: 

“Jorge dos Anjos é um artista afro descendente, que viveu a infância e a juventude em Ouro Preto, cidade impregnada da herança colonial de Minas Gerais. Nela, o artista conviveu com a arte dos grandes mestres do barroco brasileiro e com as manifestações religiosas afro brasileiras.”  marília andrés ribeiro  (1)

Eu tive o privilégio de conhecer seu trabalho mais  de perto durante o 47º Festival de Inverno da UFMG ,que neste ano buscou reforçar a sintonia entre arte e a cidade, durante quatro dias a Universidade promoveu uma série de oficinas e palestras abertas para toda a comunidade.

A oficina de Jorge dos Anjos em específico foi incrivelmente enriquecedora, permitiu-nos  além de conhecer de perto o artista, visitar também o seu o ateliê localizado no bairro São Francisco: um espaço único, cheio de histórias !

 “Jorge nos mostra que o ateliê é o espaço-tempo íntimo do artista, lugar de sua criação individual, território de liberdade onde ele trabalha o seu fazer artístico, a sua poiesis. Esse ateliê se complementa no espaço-tempo público, urbano, coletivo, de recriação social de sua arte, ampliando a sua poética.” marília andrés ribeiro  (1)

Durante a visita podemos também participar no processo de criação utilizada na obra Gravadura a Ferro e Fogo.

Nessa obra “as marcas de ferro que ele imprime nos tecidos de feltro, usando o corpo em movimento e o ferro em brasa como ferramentas. Esse gesto lhe possibilita resgatar as marcas ancestrais da violência dos opressores na pele dos escravos negros. Essas marcas, registradas no tecido, são purificadas nos rituais performáticos realizados pelo artista, no seu ateliê” marília andrés ribeiro  (1)

Durante a oficina recebemos cada um uma espécie de folha de plástico (resíduo de banner), com cola desenhamos livremente no papel, na obra original do artista os pontos representam os orixás, após derrama-se a pólvora sobre o desenho e joga o fogo que incendeia a pólvora, deixando as marcas dessa ação no plástico. Uma experiência!

Como pode-se perceber as obras fixas do artista encantam  além da simplicidade e pela clara  influência africana.  e possível vê-las em varios pontos cidade de Belo Horizonte e região (Ouro Preto):

Por estabelecer essa conexão tão próximo da cidade suas esculturas, fixas ou em formato de exposição, interagem com o espaço público, provocando um contraste muito interessante,  nós tivemos a possibilidade de participar de várias visitas nos bairros Santa Efigênia e Pampulha e em Contagem (na  DINAÇO) percorrendo em espécie de circuito cada uma das obras, a possibilidade de estar junto do artista nos permitiu conhecer de perto todo o processo de criação, os desafios de cada obra (geralmente são muito grandes e pesadas) e ver mais de perto a interação do público.

Entretanto o ponto alto para mim foi visitar o  Portal da Memória (foto acima), eu morava bem próximo dessa obra, e sempre que passava pela Lagoa da Pampulha ficava admirada, achava a escultura muito icônica, como uma moldura para a imagem de Iemanjá ao fundo, na lagoa,  via com curiosidade, admirava a inteligência do artista no explorar a forma e contraforma nessa estrutura que de uma forma magnífica emoldura a silhueta desse pôr do sol privilegiado que temos nessa cidade: Belo Horizonte faz juz ao nome que leva.

(1) A DIVERSIDADE NA POÉTICA DE JORGE DOS ANJOS: https://www.ufmg.br/revistaufmg/downloads/22/01-Artigo-1-p16-23.pdf